A Rede Social

Quando li a notícia de que seria feito um filme sobre a criação do Facebook, achei a coisa mais idiota dos últimos tempos. Achei que essa coisa das redes sociais tinha tomado conta da cabeça das pessoas de tal maneira que agora iria invadir o cinema também. Mesmo com o nome de David Fincher à frente do projeto eu não via futuro para aquilo até porque eu ficava me perguntando o que tinha de tão interessante a ser contado. Pobre de mim, não sabia dos ocorridos e quem melhor que David Fincher para me contar essa história?

Muito mais do que a história da criação do Facebook, A Rede Social é muito mais um estudo sobre determinados tipos de pessoas e de determinadas pessoas. Volta e meia vemos filmes que se tratam essencialmente da reação das pessoas em determinadas situações, das mais absurdas possíveis. Nunca que eu imaginaria que um filme sobre a criação de um site pudesse ir tão profundo nesse ponto, e ele vai tão fundo na ferida que ao final, um simples olhar, um simples silêncio te fazem entender o que se passa sem pensar muito. Ao término do filme, eu me sentia dentro da mente de Mark Zuckerberg que entre duas vistas ao filme foi de mocinho à vilão.

É claro que ao afirmar que ele é um vilão eu estou completamente distorcendo os fatos, mas só usei desse exagero pra expor o quanto a minha percepção do filme foi diferente nas duas vezes que o conferi. Lembro que quando acabei de ver na primeira vez eu fiquei morrendo de pena do Mark, que havia sido tomado como vilão por todos mas na verdade ele só queria se enturmar. O problema é que na segunda vez eu também senti pena dele, mas não pelos mesmos motivos. Senti pena por enxergar que tudo aquilo que ele buscava não teve valor algum para ele, que demorou demais para perceber. É a mesma ladainha de sempre: do que adianta conquistar o mundo se você não tem amigos? O problema é que desde o começo ele teve um amigo, do qual fez tudo por ele mas acabou sofrendo uma das maiores traições possíveis.

O Mark Zuckerberg do filme pode não ser inteiramente o da vida real, mas mesmo aquele é um prato cheio para psicólogos ou simplesmente para aqueles que querem cada vez mais entender o ser humano. A infantilidade representada em milhares de momentos do filme contrasta demais com a imagem do mais jovem milionário do mundo. Esse contraste é excelentemente apontado no filme, que utiliza da montagem não-linear para transformar a história na mais linear possível. Tudo se completa imediatamente, nós não temos que lembrar de fatos que ocorreram no começo do filme para compreender certos rumos da trama. Esse é um dos grandes trunfos do filme.

Geralmente eu divido meus textos entre os aspectos que mais me chamaram atenção, como a direção, o roteiro, as atuações. Mas ao falar de A Rede Social, não existem tais distinções. Os méritos mencionados nos parágrafos anteriores devem-se essencialmente à três homens: David Fincher, Aaron Sorkin e Jesse Eisemberg. David volta a sua velha forma (deixada de lado em Benjamin Button) e desenvolve um universo até então desconhecido dos cinéfilos que não funcionaria de jeito nenhum sem o – fica aqui o espaço para um adjetivo de sua preferência – roteiro de Aaron Sorkin que além de descrever tal universo, embasa toda a história numa persona absoluta, o Mark Zuckerberg de Jesse Eisenberg é um dos melhores personagens masculinos que vi nos últimos tempos. Já li muito por aí que Jesse deu sorte por se parecer com Mark, que a fala rápida dele é igual a do personagem, entre outros devaneios. Claro que nada disso deixa de ser verdade, mas a parte externa da atuação dele é a que menos me interessa. Eu canso de ler que tais atuações estão no olhar, nas expressões, mas por não ter tanta “experiência” as vezes encontro uma certa dificuldade de perceber isso, mas aqui a mágica aconteceu de uma tal maneira. A aparente inveja, o descaso, a ganância, a necessidade de ser aceito estão a todo momento, e dá pra diferenciar tudo isso. Eu pelo menos consegui a todo momento perceber o que se passava na cabeça daquele “gênio” indecifrável.

Fica aqui, então, o meu sincero reconhecimento a essa obra-prima da modernidade. A esse retrato da sociedade moderna tão milimetricamente perfeito que chega a assustar. E esperem, pois ainda ouviremos falar muito desse filme daqui pra frente, a temporada de premiações americana já começou e A Rede Social veio pra rapar todos os prêmios!

“The Social Network” .:. 2010 .:. EUA .:. Escrito por Aaron Sorkin .:. Dirigido por David Fincher .:. Avaliação: A+